Marlene Rangel Sardenberg

 

 

 

Ah, cidade encantada dos meus sonhos
de adolescente livre e sonhador!
Onde a vida caminha lentamente
entre ruas antigas mas tão belas
e casarões que espiam das janelas
as mais fantásticas histórias de amor!


Pudesse eu a tornava uma princesa!
E, para acentuar-lhe a realeza,
bordava seu vestidinho de chita
com as mais preciosas pedras pra fazê-la
a maior, a mais nobre, a mais bonita...
e a coroava com milhões de estrelas.


Para adornar a sua singeleza,
cinge-lhe o colo terno a natureza
com o Paraíba em gotas de cristal,
onde os bons capuchinhos engastaram
uma jóia raríssima e abençoaram –
nossa Igreja Matriz monumental.


Bela jovem, nos seus duzentos anos,
guarda mistérios e lendas ancestrais:
índios bravos que sequestraram jovens
imensos túneis e outras tantas mais.


O Paraíba passa ali tão perto,
timidamente, em direção ao mar...
Vivendo lado a lado a vida inteira,
os dois nunca puderam se encontrar.


Desde os meus longes tempos de crianças,
sempre acreditei que entre o Rio e a Igreja
há um cumplicidade, uma aliança...


Dizem que em noites cálidas de estio,
enquanto as ruas dormem sossegadas,
para que ninguém ouça, ninguém veja,
o Paraíba queda deslumbrado
ao vê-la iluminada e tão feliz,
interrompe seu curso peregrino
e, sob o olhar curioso das estrelas,
deixando de entoar cantigas d´água,
canta versos de amor para a Matriz.

 


Marlene Rangel Sardenberg


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