Cidade de São Fidélis,
universo pequenino
dos meus dias de menino,
minhas noites de rapaz.
Cidade daquele tempo,
o tempo não volta mais...

Cidade com seus desfiles,
da Banda com suas tubas,
o “Barão de Macaúbas”,
meu doce grupo escolar.
Cidade, nos seus desfiles
não posso mais desfilar.

Cidades dos meus estudos,
- “ pois quem estuda é que vence “-
o Ginásio Fidelense,
o mundo a nascer do giz.
Cidade, quem sabe muito
é sempre mais infeliz.

Cidade, o velho cinema,
o amendoim torradinho,
o revólver do mocinho
com mil balas no tambor,
cidade dos velhos filmes,
meu filme não tem mais cor.

Cidade, as nossas peladas
pelos terrenos baldios,
as pipas presas nos fios,
as brigas monumentais...
Cidade, eu saí do time
e os ventos sopram demais.

Cidade, leilão, retreta,
roupa nova, ladainhas,
foguetório e barraquinhas
no vinte e quatro de abril.
Cidade, acabou a festa
e o seu menino sumiu.

Cidade, quede as lagostas,
os robalos, os dourados
os peixes mais variados
que o rio, pródigo, dá?
Cidade, suas lagostas
fugiram do meu puçá.

Cidade o povo na missa
e o sol nos vitrais batendo
vai a igreja acendendo
nas manhãs dominicais.
Cidade, na sua missa
eu não me ajoelho mais.

Cidade, fim-de-semana,
o amor queimando por dentro,
as moças todas no centro,
rodando pelo jardim.
Cidade daquela moça
que nunca ligou pra mim.

Cidade que dorme à beira
do Paraíba macio
e transpõe o largo rio
na ponte de um carro só.
Cidade, o laço da vida
só vai apertando o nó.

Cidade das ruas retas
que à noite ficam tão mortas
e agora são ruas tortas
pois a cidade cresceu.
Cidade das ruas tortas,
mais torto é o destino meu.

Fidélis de Sigmaringa
guia meus passos incertos
e nos seus braços abertos
lá do alto da Matriz,
traz, num milagre, de volta
o tempo em que eu fui feliz...
 


Poeta e Escritor de São Fidélis - RJ

Extraído do livro O Prato de Vovó



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