Hegel Pontes

 

 

 

 

 

 

Disseram que meu pai tinha viajado,

Mas não saiu de mala nem sacola

E tudo desde então ficou mudado:

Venderam meu carrinho e minha bola.

 

 

E aos poucos eu fui vendo, desolado,

Morrer o passarinho na gaiola,

O fogão cada vez mais apagado

E meus irmãos deixarem de ir à escola.

 

 

Depois "era preciso se mudar",

Um homem trouxe a ordem num papel

Que minha mãe ao ler pôs-se a chorar.

 

 

Era Natal...e minha mãe, descrente,

Saindo às ruas qual Papai Noel,

Foi dando os  filhos todos de presente!

 

 

 

Hegel Pontes

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Natal. Natal de lojas coloridas,

Gente que passa alegre na calçada

E, em meio a tanta gente e a tantas vidas,

Segue a mãe pobre de alma atormentada.

 

 

Na vitrine um carrinho de corridas

E seu preço era tudo e quase nada:

Custava o carro as emoções doridas

De um passeio de carro pela estrada...

 

 

Meia noite! Natal! Vibram os sinos!

Nascia o Rei de todos os destinos,

Quando a mãe pobre chega na favela.

 

 

Abraça e beija o filho que, dormindo,

Não podia saber como era lindo

Seu sapato vazio na janela.

 

 

 

Hegel Pontes

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Um homem triste atrás da fantasia,

Que usava numa loja requintada,

Por pequeno salário distribuía

Muita esperança para a garotada.

 

 

Brinquedos de alto custo lhe pedia

Uma criança alegre e afortunada.

E uma por uma, a todas atendia

Sem contrair a face já cansada...

 

 

Depois de trabalhar a tarde inteira,

O bom Papai-Noel-de-brincadeira

Retira a roupa de vermelho brilho.

 

 

E enfim, após fazer tantas promessas,

É um velho professor que sai às pressas,

Para comprar o leite de seu filho.

 

 

 

Hegel Pontes

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