NA POLTRONA

Eu tenho um sonho ruim que me impressiona
E sinto medo de ir até à janela,
A Voz, que me acompanha e me aprisiona,
Não me consente que eu me afaste dela.

Quer ser a minha esposa e a minha dona
E diz-me coisas tristes de novela:
Pois, venha, Senhora, acender-me a vela,
Que há muito já estou morto na poltrona!

Feito um perdido então zombo de mim,
Depois, de frente ao espelho, fico mudo,
E tremo, tusso, fumo e bebo vinho...

E de que adianta ficar doido assim
A rir da minha dor e a rir de tudo
Se cada vez eu fico mais sozinho?

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