Delírio

Aço forjado a fogo,
Cana que virou bagaço,
Carta rejeitada do jogo,
Nó apertado d’ um laço.
 

 

Fera ferida de morte,
Ave presa na gaiola,
Errante, sem tino, sem norte,
Cantador sem ter viola.

Vida sem eira, nem beira,
Noite sem brisa a soprar,
Fogo brando de fogueira,
Peixe morto à beira mar!

Sino sem tanger seu toque,
Vontade ardente de ter,
Imagem sem foco ou enfoque,
Pedra atirada em bodoque,
Aprendiz sem aprender.

Passo sem rumo ou espaço,
Cena que virou rotina,
Fama que virou fracasso,
Água parada da tina!

Rio sem leito ao relento,
Pipa perdida no ar,
Corpo pedindo acalento,
Alma louquinha pra amar.

 

AMASardenberg

- 50 -

- 49 -

http://www.avbl.com.br