Emílio de Menezes
Este
leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,
Onde este grande amor floriu, sincero e justo,,
E unimos, ambos nós, o peito contra o peito,
Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto ;
Este leito que aí está revolto assim, desfeito,
Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto,
Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito,
Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...
Louco e só! Desvairado!--- A noite vai sem termo
E estendendo, lá fora, as sombras augurais,
Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.
E mal julgas, talvez, quando, acaso, te vais,
Quanto me punge e corta o coração enfermo
Este horrível temor de que não voltes mais!...
1867 / 1918
Todos os direitos reservados ao autor
Biografia
Emílio Nunes Correia de Meneses (Curitiba, 4 de julho
de 1866 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 1918) foi um
jornalista e poeta brasileiro. Imortal da Academia Brasileira
de Letras, mestre dos sonetos satíricos.
Era filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília
Correia de Meneses, único homem dentre oito irmãs. Seu pai era
também um poeta. Faz seus estudos iniciais com João Batista
Brandão Proença, e depois no Instituto Paranaense. Sem ser de
família abastada, trabalha na farmácia de um cunhado e, ainda
com dezoito anos, muda-se para o Rio de Janeiro, deixando em
Curitiba a marca de uma conduta já distoante ao formalismo
vigente: nas roupas, no falar e nos costumes.
Boêmio, na capital do país encontra solo fértil para destilar
sua fértil imaginação, satírica como poucos. A amizade com
intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome
afastado do grupo inicial que fundara a Academia. Torna-se
jornalista e, por intercessão do escritor Nestor Vítor,
trabalha com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888
casa-se com uma filha deste, Maria Carlota Coruja, em 1888,
com quem tem no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião.
Mas Emílio não estava fadado para a vida doméstica: neste
mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com
Rafaelina de Barros.
Autor de versos mordazes, eivados de críticas das quais não
escapavam os políticos da época, mestre dos sonetos, Emílio de
Meneses é portador de uma tradição - iniciada com o Brasil, em
Gregório de Matos.
Tendo sido nomeado para o recenseamento, como Escriturário do
Departamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em
1890, Emílio aposta na especulação da falácia econômica do
Encilhamento, criada pelo Ministro da Fazenda Ruy Barbosa:
como muitos, fez rápida fortuna, esbanja e, terminada a farsa,
como todos os outros investidores, vai à falência. Não muda,
entretanto, seus hábitos. Continua o mesmo boêmio de sempre, a
povoar os jornais da época com suas percucientes anedotas.
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