De tudo, ao meu amor serei
atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
É assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive;
Quem sabe a solidão, fim de quem ama,
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure!
1913/1980
Todos os direitos reservados ao autor
São demais os perigos
desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer, de tão perfeita.
Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.
1913/1980
Todos os direitos reservados ao autor
Biografia
Vinicius de Moraes foi muito mais que nosso 'Poetinha',
apelido carinhosamente atribuído a ele. Marcus Vinicius
da Cruz de Melo Moraes foi compositor, intérprete,
escritor, jornalista, advogado, diplomata. Uma pessoa
que viveu a vida ao máximo, passou uma metade dela
viajando, a outra amando (teve nove casamentos).
O menino nascido na Gávea, Zona Sul do Rio, no dia 19 de
outubro de 1913, era um apaixonado pelo mundo. Daí suas
escolhas profissionais, em todos os sentidos. Obcecado
pelo dom de viver, Vinicius sempre procurou fazer aquilo
que lhe proporcionasse prazer. "Foi o único e nós que
teve a vida de poeta", confessou o mestre Carlos
Drummond de Andrade.
A carreira diplomática começou em 1943, e teve passagens
pelos Estados Unidos, onde trabalhou como vice-cônsul,
França, como segundo-secretário da embaixada, e Uruguai.
Em 1957, passou a fazer parte da delegação brasileira na
Unesco. Tais atividades só foram interrompidas em 1968,
quando foi punido pelo Ato Institucional n.º 5 com
aposentadoria compulsória do Itamaraty, depois de 26
anos de (bons) serviços prestados.
O jornalismo e a crítica de cinema foram outras
ocupações profissionais. Trabalhou nos jornais Última
Hora, A Manhã, Suplemento Literário, O Jornal e na
revista Clima, entre outros lugares. Em 1936, ele foi
nomeado representante do MEC na Censura Cinematográfica.
O trabalho, puramente burocrático, resultou apenas na
certeza da personalidade de Vinicius: ele dormia durante
as sessões e nada censurava. Mais de bem com a vida,
impossível! Uma atuação mais animada e engajada viria em
1947, com a fundação da revista Filme, da qual ele
participou e manteve contato com diretores famosos como
Orson Welles e Walt Disney.
Viajante que era, percorreu a Europa em 1952 com o
objetivo de estudar a organização dos festivais de
Cannes, Berlim, Locarno e Veneza. Em 1966, foi membro do
Júri Internacional de Cannes. Mais uma do cinema na vida
do poetinha: a sua peça teatral Orfeu da Conceição, de
Marcel Camus, serviu de base ao filme Orfeu do Carnaval,
premiado em 1959, com a Palma de Ouro no Festival de
Cannes, e em 1960, com o Oscar de Melhor Filme
Estrangeiro.
Vinicius era admirado não apenas por sua obra. Antes de
poeta, ele foi uma pessoa querida por todos seus
companheiros, parceiros e amigos. Um carioca da gema,
como podemos definir pelo seu amor à cidade, que pode
ser comprovado através dos sonetos e músicas. Nosso
poetinha faleceu no Rio de Janeiro em 9 de Julho de
1980, mas seu legado ainda está presente nos corações
dos apaixonados. Apaixonados pela vida, acima de tudo.
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