Ah! quem
nos dera que isto, como outr'ora,
Inda nos comovesse ! Ah! quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!
Saiamos com os pássaros e a aurora.
E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
"Beijemo-nos! amemo-nos! espera!"
E esse corpo de rosa rescendia,
E os meus beijos de fogo palpitava,
Alquebrado de amor e de cansaço...
A alma da terra gorgeiava e ria...
Nascia a primavera... E eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço!
1865 /1918
Todos os direitos reservados ao autor
"Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no
entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em
pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
1865 /1918
Todos os direitos reservados ao autor
A mocidade
é como a PRIMAVERA !
A alma cheia de flores, resplandece,
Crê no bem, ama a vida, sonha e espera,
E a desventura facilmente esquece.
É a idade da força e da beleza:
Olha o futuro e inda não tem passado;
E, encarando de frente a Natureza,
Não tem receio do trabalho ousado.
Ama a vigília, aborrecendo o sono;
Tem projetos de glória, ama a Quimera;
E ainda não dá frutos como o outono,
Pois só dá flores como a PRIMAVERA !
1865 /1918
Todos os direitos reservados ao autor
Biografia
Olavo Bilac
(Olavo Braz Martins dos Guimarães
Bilac), jornalista, poeta,
inspetor de ensino, nasceu no Rio de
Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de
1865, e faleceu, na mesma cidade, em
28 de dezembro de 1918. Um dos
fundadores da Academia Brasileira de
Letras, criou a Cadeira nº 15, que tem
como patrono Gonçalves Dias.
Eram seus pais o Dr. Braz Martins dos
Guimarães Bilac e D. Delfina Belmira
dos Guimarães Bilac. Após os estudos
primários e secundários, matriculou-se
na Faculdade de Medicina no Rio de
Janeiro, mas desistiu no 4º ano.
Tentou, a seguir, o curso de Direito
em São Paulo, mas não passou do
primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao
jornalismo e à literatura. Teve
intensa participação na política e em
campanhas cívicas, das quais a mais
famosa foi em favor do serviço militar
obrigatório. Fundou vários jornais, de
vida mais ou menos efêmera, como A
Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção
“Semana” da Gazeta de Notícias,
substituiu Machado de Assis,
trabalhando ali durante anos. É o
autor da letra do Hino à Bandeira.
Fazendo jornalismo político nos
começos da República, foi um dos
perseguidos por Floriano Peixoto. Teve
que se esconder em Minas Gerais,
quando freqüentou a casa de Afonso
Arinos em Ouro Preto. No regresso ao
Rio, foi preso. Em 1891, foi nomeado
oficial da Secretaria do Interior do
Estado do Rio. Em 1898, inspetor
escolar do Distrito Federal, cargo em
que se aposentou, pouco antes de
falecer. Foi também delegado em
conferências diplomáticas e, em 1907,
secretário do prefeito do Distrito
Federal. Em 1916, fundou a Liga de
Defesa Nacional.
Sua obra poética enquadra-se no
Parnasianismo, que teve na década de
1880 a fase mais fecunda. Embora não
tenha sido o primeiro a caracterizar o
movimento parnasiano, pois só em 1888
publicou Poesias, Olavo Bilac
tornou-se o mais típico dos
parnasianos brasileiros, ao lado de
Alberto de Oliveira e Raimundo
Correia.
Fundindo o Parnasianismo francês e a
tradição lusitana, Olavo Bilac deu
preferência às formas fixas do
lirismo, especialmente ao soneto. Nas
duas primeiras décadas do século XX,
seus sonetos de chave de ouro eram
decorados e declamados em toda parte,
nos saraus e salões literários comuns
na época. Nas Poesias encontram-se os
famosos sonetos de “Via-Láctea” e a
“Profissão de Fé”, na qual codificou o
seu credo estético, que se distingue
pelo culto do estilo, pela pureza da
forma e da linguagem e pela
simplicidade como resultado do lavor.
Ao lado do poeta lírico, há nele um
poeta de tonalidade épica, de que é
expressão o poema “O caçador de
esmeraldas”, celebrando os feitos, a
desilusão e morte do bandeirante
Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu
tempo, um dos poetas brasileiros mais
populares e mais lidos do país, tendo
sido eleito o “Príncipe dos Poetas
Brasileiros”, no concurso que a
revista Fon-fon lançou em 1º de março
de 1913. Alguns anos mais tarde, os
poetas parnasianos seriam o principal
alvo do Modernismo. Apesar da reação
modernista contra a sua poesia, Olavo
Bilac tem lugar de destaque na
literatura brasileira, como dos mais
típicos e perfeitos dentro do
Parnasianismo brasileiro. Foi notável
conferencista, numa época de moda das
conferências no Rio de Janeiro, e
produziu também contos, crônicas e
obras didáticas.
Obras: Poesias (1888); Crônicas e
novelas (1894); Crítica e fantasia
(1904); Conferências literárias
(1906); Dicionário de rimas (1913);
Tratado de versificação (1910); Ironia
e piedade, crônicas (1916); Tarde
(1919); Poesia, org. de Alceu Amoroso
Lima (1957).
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