Gilka Machado
Embora de teus lábios afastada
(Que importa ? - Tua boca está vazia ...)
Beijo esses beijos com que fui beijada,
Beijo teus beijos, numa nova orgia.
Inda conservo a carne deliciada
Pela tua carícia que mordia,
Que me enflorava a pele, pois, em cada
Beijo dos teus uma saudade abria.
Teus beijos absorvi-os, esgotei-os :
Guardo-os nas mãos, nos lábios e nos seios,
Numa volúpia imorredoura e louca.
Em teus momentos de lubricidade,
Beijarás outros lábios, com saudade
Dos beijos que roubei de tua boca.
1893 / 1980
Todos os direitos reservados à autora
Biografia
Gilka da Costa de Melo Machado nasceu no Rio de
Janeiro em 12 de março de 1893 e lá mesmo faleceu em 11 de
dezembro de 1980.
Publicou seu primeiro livro de poesia, Cristais Partidos, em
1915. Na época, já era casada com o poeta Rodolfo de Melo
Machado. No ano seguinte, ocorreu a publicação de sua
conferência A Revelação dos Perfumes, no Rio de Janeiro. Em
1917 saiu Estados de Alma; seguiram-se Poesias, 1915/1917
(1918); Mulher Nua (1922), O Grande Amor (1928), Meu Glorioso
Pecado (1928), Carne e Alma (1931). Em 1932 foi publicada em
Cochabamba, na Bolívia, a antologia Sonetos y Poemas de Gilka
Machado, prefaciada por Antonio Capdeville. Em 1933, Gilka foi
eleita "a maior poetisa do Brasil", por concurso da revista O
Malho, do Rio de Janeiro. Foram lançadas, nas décadas
seguintes, suas obras poéticas Sublimação (1938), Meu Rosto
(1947), Velha Poesia (1968). Suas Poesias Completas foram
editadas em 1978, com reedição em 1991. Poeta simbolista,
Gilka Machado produziu versos considerados escandalosos no
começo do século XX, por seu marcante erotismo. Para o crítico
Péricles Eugênio da Silva Ramos, ela “foi a maior figura
feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com
seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de
Alma”.
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