José
Joaquim Cesário Verde (1855/1886) - poeta português,
natural de Caneças, Loures, oriundo de uma família burguesa
abastada. O pai era lavrador (tinha uma quinta em
Linda-a-Pastora) e comerciante (estabelecido com uma loja de
ferragens na baixa lisboeta). Foi por essas duas actividades
práticas, úteis, de acordo com a visão do mundo do próprio
Cesário Verde, que se repartiu a vida do poeta. Paralelamente,
ia alimentando o seu gosto pela leitura e pela criação
literária, embora longe dos meios literários oficiais com que
nunca se deu bem, o que o levou, por exemplo, a abandonar o
Curso Superior de Letras da Faculdade de Letras de Lisboa, que
frequentou entre 1873 e 1874. Cesário Verde estreou-se, nessa
altura, colaborando nos jornais Diário de Notícias, Diário da
Tarde, A Tribuna e Renascença. A partir de 1875 produziu
alguns dos seus melhores poemas: «Num Bairro Moderno» (1877),
«Em Petiz» (1878) e «O Sentimento dum Ocidental» (1880). Este
último foi escrito por ocasião do terceiro centenário da morte
de Camões e é, ainda hoje, um dos textos mais conhecidos do
poeta, embora mal recebido pela crítica de então, numa
incompreensão geral mesmo por parte de escritores da Geração
de 70, de quem Cesário Verde esperaria aceitação para a sua
poesia.
A falta de estímulo da crítica e um certo mal-estar
relativamente ao meio literário, expressos, por exemplo, no
poema «Contrariedades» (Março de 1876), fazem com que Cesário
Verde deixe de publicar em jornais, surgindo apenas, em 1884,
o poema «Nós». O binómio cidade-campo surge como tema
principal neste longo poema narrativo autobiográfico, onde o
poeta evoca a morte de uma irmã ( 1872) e de um irmão (1882),
ambos de tuberculose, doença que viria a vitimar igualmente o
poeta, apesar das várias tentativas de convalescença numa
quinta no Lumiar. Só em 1887 foi organizada, postumamente, por
iniciativa do seu amigo Silva Pinto, uma compilação dos seus
poemas, a que deu o nome de O Livro de Cesário Verde (à
disposição do público em geral apenas em 1901). Dividida em
duas secções, Crise Romanesca e Naturais, o livro não seguiu
qualquer critério cronológico de elaboração ou de publicação.
Entretanto, novas edições vieram acrescentar alguns textos à
obra conhecida do poeta e organizá-la segundo critérios mais
rigorosos.
Formado dentro dos moldes do realismo e do
parnasianismo literários, Cesário Verde afirmou-se sobretudo
pela sua oposição ao lirismo tradicional. Em poemas por vezes
cínicos ou humorísticos (na linha de A Folha, de João Penha,
ou de Baudelaire, de que se reconhece a influência sobretudo
no tratamento da temática da cidade, do amor e da mulher)
conseguiu manter-se alheio ao peso da «literatura», procurando
um tom natural que valorizasse a linguagem do concreto e do
coloquial, por vezes até com cariz técnico, marcando um desejo
de autenticidade e um amor pelo real, que fez com que a sua
poesia enfrentasse, por vezes, a acusação de prosaísmo. Com
uma visão extremamente plástica do mundo, deteve-se em
deambulações pela cidade ou pelo campo (seus cenários de
eleição) transmitindo o que aí era oferecido aos sentidos, em
cores, formas e sons, de acordo com a fórmula do próprio
poeta, expressa em carta ao seu amigo Silva Pinto: «A mim o
que me rodeia é o que me preocupa». Se, por um lado, exaltava
os valores viris e vigorosos, saudáveis, da vida do campo e
dos seus trabalhadores, sem visões bucólicas, detinha-se, por
outro, na cidade, na sedução dos movimentos humanos, da sua
vibração, solidarizando-se com as vítimas de injustiças
sociais e integrando na sua poesia, por vezes, um desejo de
evasão. Conhecido como o poeta da cidade de Lisboa, foi
igualmente o poeta da Natureza anti-literária, numa
antecipação de Fernando Pessoa/Alberto Caeiro, que considerava
Cesário um dos vultos fundamentais da nossa história
literária.
Através de processos impressionistas, de grande
sugestividade (condensando e combinando, por exemplo,
sensações físicas e morais num só elemento), levou a cabo uma
renovação ímpar, no século XIX, da estilística poética
portuguesa, abrindo caminho ao modernismo e influenciando
decisivamente poetas posteriores.
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