Biografia
Antero Tarquíneo de Quental (1842 - 1891) é
considerado um dos principais poetas portugueses
modernos. Aluno brilhante na Universidade de Coimbra, em
Portugal, formou-se em direito, em 1864. Dois anos
depois tentaria se alistar no exército do nacionalista
Giuseppe Garibaldi, o revolucionário que havia unificado
a Itália em 1861.
Ilhéu, isto é, nascido numa ilha que era colônia
portuguesa, viajou pela França, pelos Estados Unidos e
pelo Canadá, fixando-se em Lisboa, onde trabalhou por
algum tempo organizando o Partido Socialista. Amigo de
Eça de Queirós e Oliveira Martins, pertenceu à chamada
Geração de 70, grupo ligado à Questão Coimbrã e que
pretendia renovar a mentalidade em Portugal.
A Questão Coimbrã foi uma polêmica literária travada, em
1865, entre o círculo de poetas ligados a António
Feliciano de Castilho e o grupo de jovens coimbrãos
(isto é, ligados à Universidade de Coimbra) que
manifestaram publicamente o seu interesse pela reforma
da vida em Portugal. que veio, mais tarde, a ser
conhecido como Geração de 70, da qual Antero de Quental
foi considerado mentor. Com os poemas "Odes Modernas" e
o ensaio "Bom Senso e Bom Gosto", ambos desse e ano, o
poeta e pensador liderou a ruptura cultural com os
valores do passado - representados, na Questão, pelo
poeta Castilho.
As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica.
Defendia a missão social da poesia como oposição ao
lirismo ultra-romântico em voga na época. Sua poesia
pode ser considerada uma procura filosófica pela verdade
através da própria experiência. Os intelectuais do seu
tempo o definiam como um homem de grande estatura moral
e espiritual.
São também desse período do Grupo dos 70 as suas
manifestações de entusiasmo pelos movimentos sociais
europeus, e a leitura dos grandes teóricos do socialismo
e dos filósofos contemporâneos, em especial Proudhon e
Hegel, que influenciaram bastante o seu pensamento.
Produziu ainda "Raios de Extinta Luz", "Primaveras
Românticas", "Sonetos", "Prosas" e "Cartas". Ainda em
vida, teve seus sonetos traduzidos para o alemão.
Numa carta ao amigo Cândido de Figueiredo, datada de 3
de maio de 1881, dez anos antes da sua morte, se disse
oriundo de uma família com antecedentes literários, de
que destacava o Padre Bartolomeu de Quental "cujos
sermões ainda hoje podem ser lidos com alguma utilidade"
e o seu avô, André Ponte de Quental, "poeta nada vulgar"
e amigo íntimo de Bocage.
Colaborou na criação de associações operárias, e ao
mesmo tempo se dedicou a divulgar ideais
revolucionários, escrevendo panfletos e artigos sobre
assuntos sociais e literários para o "Jornal do
Comércio" e o "Diário Popular", de Lisboa, e para "O
Primeiro de Janeiro", do Porto. Fez parte das redações
dos periódicos "A República" e "Pensamento Social".
Fundou, em 1872, a Associação Fraternidade Operária,
representante em Portugal da 1ª. Internacional Operária.
Sofria de uma doença mental, identificada por alguns
como psicose maníaco-depressiva, hoje chamada de
transtorno bipolar, pela moderna psiquiatria. Em função
desse distúrbio, caracterizado por períodos de delírio
alternados com profunda depressão, torna-se quase
inválido, o que faz diminuir seu ativismo político em
prol de um nacionalismo ibérico e do socialismo.
Seu último ensaio filosófico, "A Filosofia da Natureza
dos Naturalistas", foi publicado em 1884, na Revista de
Portugal, editada por Eça de Queirós.
Em 5 de junho de 1891, adoentado, provavelmente
deprimido, regressou para Ponta Delgada, sua cidade
natal no arquipélago dos Açores - e não chegou a se
recuperar, cometendo suicídio três meses depois.
|